terça-feira, 10 de agosto de 2010

Grupo Ornitorrinco - memória em livro

TEATRO

Ornitorrinco, 32 anos

por Majô Levenstein


Livro Teatro do Ornitorrinco celebra aniversário da Companhia de Cacá Rosset





O Grupo Ornitorrinco ocupa, há 32 anos, um lugar único no teatro brasileiro com suas encenações provocantes, lúdicas e inovadoras, cheias de deboche e efeitos pirotécnicos. Teatro do Ornitorrinco (524 págs. R$ 185 ou R$ 120, na noite de autógrafos), editado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, conta a história do grupo a partir de depoimentos de fundadores, membros e ex-membros. O livro é um projeto de Christiane Tricerri – atriz emblemática da trupe, que também organizou o volume –, com textos e entrevistas de Guy Corrêa. O lançamento será nesta segunda-feira (dia 30), às 20h, noRestaurante Spot (Alameda Ministro Rocha Azevedo, 72).

Sonhos de uma Noite de Verão, em 1991

“Surgidos durante um regime nada favorável à livre expressão, donos de espontaneidade irreprimível e irreverência combinada com inteligência, seus integrantes souberam fazer uso do sarcasmo com maestria. Talvez por isso mesmo tenham provocado imediata identificação num público que via naquele palco eco e reflexo de um sentimento coletivo e, naquele contexto, a ironia parecia ser a arma perfeita”, escreve Hubert Alquéres, diretor-presidente da Imprensa Oficial, na apresentação do volume. O grupo foi criado por Luiz Roberto Galízia, Cacá Rosset e Maria Alice Vergueiro em abril de 1977. Galízia e Rosset eram alunos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, enquanto Vergueiro era professora da mesma escola. Na época, o teatro não era mais o espaço de experimentação estética e de contestação política que fora na década de 1960. “Tinha o chamado teatrão, com peças comerciais ou o teatro alternativo, underground, que era, na minha opinião, muito confinado a guetos culturais”, recorda Cacá Rosset, o único fundador que ainda integra o grupo.

Ubu, com Rosi Campos e Cacá Rosset

O Ornitorrinco sacudiu essa pasmaceira levando textos clássicos e de vanguarda aos palcos, com grandes doses de liberdade e humor. As ideias essenciais de Rosset são preservadas, mas elas convivem com alusões impiedosas à atualidade política e social e com um tom de comédia escrachada, em que referências ao circo são praticamente constantes. Assim, o Ornitorrinco estabelece uma relação antropofágica com os autores. A partir desses pressupostos, a companhia encenou peças de dramaturgos da envergadura deAugust Strindberg, Bertold Brecht, Molière, Shakespeare, Jean Cocteau, Federico García Lorca, Alfred Jarry, Georges Feydeau e Albert Boadella. “Nós buscávamos uma reteatralização do teatro – isso foi algo muito importante que perseguiu a trajetória estética do grupo durante toda a sua carreira. A busca por um teatro antipsicológico, antinaturalista, antiaristotélico, antitelevisivo, antivoyeurista, buscando, exatamente, a reteatralização, a especificidade da linguagem teatral”, observa Rosset.



Organizado cronologicamente ao sabor das montagens da trupe, muitas delas memoráveis, o livro tem um vasto material iconográfico que reúne fotos de cena, croquis de cenários e figurinos, reproduções de programas de espetáculo, cartazes e críticas das peças publicadas pela imprensa. O livro ainda recupera a memória de figuras importantes do grupo mortos precocemente, como o ator e diretor Luiz Roberto Galízia (1952-1985) e o ator Chiquinho Brandão (1952-1991).

Enfim, trinta e tantos anos depois, o Ornitorrinco merece todos os aplausos. Parabéns!